terça-feira, 24 de julho de 2012

TOURADA



O medo esse touro indomável
Rodopia na arena ensandecido
Enganando o pavor que atravessa seu couro
Envenenado, assanhado
Suporta a tortura do algoz.
Suas carnes tremulam transidas de dor
Ilude-se com promessas
Cambaleia traído
Resiste zombeteiro e feroz
Mas tomba no chão ensanguentado.
A vida não perdoa quem sai derrotado.
O poder se manifesta na dominação
Aprendemos a não mostrar fragilidade.
O resultado da perda é a rendição?
Como lidar com a dualidade?
Vencedor e vencido convivem lado a lado.
O desafio é conciliar força e fraqueza.
O equilíbrio das duas é minha decisão.


Rio, 25 de julho de 2012.

Nathalia Leão Garcia



DELÍRIO COLETIVO



Somos insignificantes
Exageramos na importância
Mascaramos a dor
Substituímos a ânsia
Pelo ópio incolor
Gritamos meias verdades
Somos substituíveis
Individualmente impotentes
Somados somos fortes
Dividimos a mesma miséria
Na medida do tempo atroz
Diminui a relevância
Pensando na sobrevivência
Nos perdemos no coletivo
Multiplicamos a energia
Afogamos a angústia
Em falsos sonhos delirantes.


Rio, 24 de julho de 2012.

Nathalia Leão Garcia




SINCRONICIDADE


A vida se desdobra
atravessa a cidade
por tantos caminhos se enfronha.
A dor se esconde atrás da vaidade.
O tempo não cala e cobra
A consciência enfadonha,
entrelaça a memória,
persuade a entranha
e corrompe a história.

Rio, 24 de julho de 2012.

Nathalia Leão Garcia



sexta-feira, 13 de julho de 2012

FRAGMENTAÇÃO



Convivemos com nossos "eus"
Que gritam por atenção 
Que se digladiam para assumir o comando.
Somos habitados por estes seres alienígenas que nos definem.
Somos fragmentados e fragilizados pela divisão.
Conciliar as diferenças gera as pulsões.
Sobreviver à essa guerra é a nossa missão.
Então mãos à obra!
Haja poesia pra dar conta dessa conciliação!

Rio, 14 de julho de 2012.
Nathalia Leão Garcia


LIBERATA

Ah que bom seria decretar a morte do medo!
Esse tirano mal intencionado que nos devora.
Menor risco oferece o mundo lá fora.
Precisamos nos libertar do apego.
O temor ronda a insônia.
Terror que se manifesta nas madrugadas
Iluminadas, encantadas e devassadas.
Abrem-se aos olhares que nos consomem.
Suor, torpor e pavor.
Na escuridão a sombra é verdadeira.
Reféns dos sonhos que somem,
Desejamos encontrar o idílio
Que o vento nos traga a resposta
Feita de estrelas envoltas em poeira.

Rio, 14 de julho de 2012.
Nathalia Leão Garcia






RÉQUIEM PARA MARICOTA



Vivemos um 8 de julho sem Maricota e seu azul!
Tivemos de nos contentar com o gris!
As tintas se espalham em desalinho.
O frio se impõe sobre nós.
Tornamo-nos mais pensativos.
As lágrimas banham meus olhos
Que se afogam na escuridão
Porque reclamam a tua luz
Sobreviver ao inverno glacial
E o que faremos sem o teu perfume?
A tua leveza não veste mais o presente.
Recriamos o teu sol radiante
Agradecemos pela dádiva
De termos sido tocados por tua beleza!

Rio, 13 de julho de 2012.
Nathalia Leão Garcia



COM TRADIÇÕES



Há uma eternidade
Entre a vida e a morte
Há mistérios infindáveis
Que circundam a minha mente
Por quê tenho que viver uma só idade?
De manhã acordo com 50,
Mais à tarde mal tenho 5!
À noitinha deleito-me com 18!
De madrugada chego aos 90!
Que viagem mais incoerente!
Quem sabe me desenho na esquina com sorte?

Rio, 13 de julho de 2012.
Nathalia Leão Garcia




quarta-feira, 11 de julho de 2012

PEGADAS




Gosto dessa levada
Delineada em finos gestos
Onde se inscreve em pergaminhos
A nossa história enluarada.
Decodificamos os sinais
Que se enroscam no tempo.
Namoramos em inusitados caminhos.
Quem diria que os dribles
Dariam conta do recado?
Esse fogo chama pra dança
Nos lança no centro da arena
Enfrenta o risco dos desejos
E se declara livre e purificado.

Rio, 11 de julho de 2012.
Nathalia Leão Garcia


DOCE REBELIÃO


Sua poesia arrebata,
Exorta-nos a anarquia,
Expulsa os demônios e os medos!
Obedeça a ordem dos dedos:
Solte as palavras,
Que em procissão
Ganham as ruas
Reinam nos altares
E enfim
Conquistam a liberdade!

Rio, 11 de julho de 2012.

Nathalia Leão Garcia


EXALTAÇÃO


Sua poesia provoca um eriçar de pelos.
Um arrepio que assombra a monotonia.
Atentado ao pudor dos meus apelos.
Raio de sol que atravessa a sala vazia,
Por onde se escondem os meus devaneios.
Intervalo entre o silêncio e o espanto.
O caminho onde perco meus freios
E transforma todo o ardor em flor e encanto.

Rio, 11 de julho de 2012.

Nathalia Leão Garcia


REMINISCÊNCIAS E ESCRIVIVÊNCIA

                 Carrego em mim a doce lembrança de minha avó materna que me criou. Ela partiu cedo desta vida, mas me deixou de herança s...