Eu canto as notas solitárias deste poema.
Encanto palavras de um mantra ritual.
Meus versos vertiginosos
Provocam tremores e anunciam tormentas.
Insuportável a dúvida lancinante dilacera
Fatia as horas em mil pedaços
Caleidoscópio do tempo cruel.
Minha força rasteja nos submundos.
O que me traz prazer?
O que me rouba a paz?
Quem decifra meus enigmas?
A desalmada humanidade sabe não.
O dialeto da alma é feito de sutileza.
Requisita especiais habilidades
O silêncio revisita a suavidade e a contemplação.
A intimidade é vizinha da delicadeza.
É preciso aquietar o coração.
Pra suportar a dor existencial infinita
As coisas não são como se quer.
Tomo o cálice amargo de fel.
A compreensão interior me legitima.
Minha parca autoconfiança
As asas frágeis tremem ao voar
As raízes tortas, malformadas.
O medo espreita nas sombras
O vento forte debulha as folhas.
Como um delicado bambu me curvo aos vendavais.
Mas meus ossos não se quebram, são maleáveis.
A vontade e a teimosia são maiores.
Assim ultrapasso meus limites, rompo as fronteiras
Mas não atraco nos portos, não alcanço as margens.
A busca e o frio não são confortáveis.
Sigo o caminho errante, desequilibrado.
A prospecção
de terrenos agrestes interiores.
A luz sutil é o que me guia na cega indignação
Aguça meus sentidos pra que eu alcance a pureza.
Transformando toda essa incerteza em doce aceitação.
Nathalia Leão Garcia
Rio, 13 de setembro de 2013.
Fra Angelico - Annunciation