O SUJEITO NA PÓS MODERNIDADE: A INSUSTENTÁVEL
FLUIDEZ
Nathalia Leão
Garcia
Desde os tempos após a II Guerra Mundial, muitas mudanças ocorreram e a
percepção do ser sobre a sua essência se diluiu e fragmentou perante as novas
demandas. O que mais nos aflige nos tempos pós-modernos são as tendências
marcadas pelo individualismo, impermanência, relações fluidas, um mundo
“desfronteirizado”, globalizado, dominado pela flexibilidade, incertezas e
primazia da criatividade. As transformações da sociedade atual estão mudando
nossas identidades pessoais, desconstruindo a ideia que fazíamos de um sujeito
integrado que vivia apenas o conflito interno da paixão contra a razão. O que
sucede é uma perda de sentido, uma “descentração” do sujeito. Podemos dizer que
o homem pós- moderno é um ser instável, incoerente e avassalado pela
fragilidade nas suas relações. Este novo sujeito assume identidades diferentes
em situações diversas, transmutando-se numa multiplicidade desconcertante e
cambiante de identificações que podem ser flutuantes, ou ao menos temporárias.
Esta visão está baseada nos estudos do teórico cultural e sociólogo
Stuart Hall que assinala que se instalou na pós-modernidade uma crise de
identidade, uma vez que o que antes estava centrado e estável, não está mais.
Para este autor o sujeito pós-moderno: não possui uma identidade essencial ou
permanente. (HALL, 2005)
No mundo dito pós-moderno, as identidades podem ser adotadas e
descartadas como se troca de roupa. Portanto, deste
ponto de vista, um dos problemas atuais do homem pós-moderno é o da formação
e/ou adaptação da identidade.
Desta maneira, o sujeito pós-moderno só pode ser entendido se colocado
na perspectiva histórica, ainda assim é possível que sejamos surpreendidos com
um “sujeito” fragmentado, amedrontado, triste, ignorado enquanto ser perdido na
sua busca por uma identidade.
A chamada "crise de identidade" é vista hoje, como parte de um
processo mais amplo de mudança, abalando os padrões de referência que
garantiam, até então, aos sujeitos, certa estabilidade e segurança para sua
sobrevivência no mundo. A ideia de individualidade se sobrepõe aos interesses
da coletividade.
O ser humano não se reconhece e se nega a buscar o autoconhecimento
estando, por isso, vulnerável às diversas influências e dominações, por
diversas razões ainda pouco claras. Por isso, a questão da identidade está
sendo extensamente discutida na teoria social e também na psicologia.
Podemos formular o argumento de que as velhas identidades, que por tanto
tempo foram o alicerce do mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas
identidades e fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como um sujeito
unificado A noção de identidade no âmbito psicológico implica, portanto, em
construção de um senso de direção, de uma estrutura psicológica e emocional que
possa prover certa noção de equilíbrio.
Acontece, que o sujeito pós-moderno pode se perder numa desordem ou em
uma nova ordem, na qual os interesses individuais tendem a suplantar os
interesses voltados ao bem-estar coletivo. Cada um estaria voltado para a busca
de experiências pessoais exclusivas, de sensações prazerosas e imediatistas a
despeito da organização coletiva.
A humanidade é bombardeada por informações, influenciada pelos meios de
comunicação e pela utilização de novas tecnologias. A mídia cria demandas de
consumo, que muitas vezes nada tem a ver com a necessidade do sujeito,
oferecendo ao indivíduo várias possibilidades de identificações e exercendo
papel de formadora do “eu. Tudo isso coloca o sujeito na posição de mero
espectador do espetáculo que cria expectativas de prazer.
Nunca, na história da humanidade, o local e o global estiveram tão
intimamente ligados à formação de sua identidade. Cabe ao sujeito pós-moderno
construir uma identidade estável e que se sustente na trama histórica que se
desenrola no tempo e no espaço.
Para isso, o homem pós-moderno além do autoconhecimento precisa aprender
a conviver com as mudanças de forma realística. É preciso buscar equilíbrio. É
difícil imaginarmos hoje o mundo desinformatizado, desconectado e
desglobalizado, estamos no meio de transformações profundas, sem saber para
onde caminhamos, à deriva, tragados pela conjuntura de valores
denominada “Modernidade Líquida” expressão usada pelo sociólogo polonês
Zygmunt Bauman que analisa a fundo os problemas sociais que norteiam a
experiência cotidiana do homem contemporâneo.
A identidade, como sentido de
pertencimento e de localização no tempo e no espaço, pode parecer que é algo
muito palpável, fixo e objetivo. Porém, Bauman nos alerta que no contexto atual
do capitalismo tardio, vivemos o que ele denomina de modernidade líquida, na
qual qualquer busca por uma identidade estável dentro de uma comunidade segura
é impossível. Isso ocorre por conta da velocidade das transformações, dos
excessos de deslocamentos, das fragilidades dos laços humanos, da filosofia das
relações sociais descartáveis e dos estilos de vida que são vorazmente vendidos
e consumidos.
É nesse sentido que Bauman faz uma
crítica da visão ingênua de que a construção de identidades é algo sempre bom,
quando enfatiza que a busca por um sentido de pertencimento num grupo pode
favorecer mais a demarcação de diferenças que sejam transformadas em
desigualdades, gerando conflitos e intolerâncias nacionalistas, religiosas,
políticas, sexuais, culturais, étnicas e de toda a sorte de opiniões.
Complexo e
contraditório como é, o pós-modernismo não só expressa a realidade social
fragmentada do presente, legitimando-a, mas também corporifica, em inúmeros
aspectos, uma atitude de insatisfação, de rebeldia implícita em face dela,
trazendo algumas observações agudas que nos ajudam a compreendê-la.
O reconhecimento dos méritos de alguns autores pós-modernos, contudo,
não atenua a crítica de fundo que Terry Eagleton, como marxista, faz ao
pós-modernismo, caracterizando-o como uma maneira de enxergar a realidade que
resulta numa aceitação da fragmentação, resultando num esvaziamento da história
e numa repulsa a qualquer totalização. Como não há mais nenhuma totalidade
social, não pode haver nenhum sujeito coletivo totalizante, capaz de encaminhar
um projeto de transformação da sociedade como um todo: o que se pode esperar de
melhor é a realização de pequenas reformas, modestos reajustes institucionais.
Concluindo, as ilusões do pós
modernismo se mostram na realidade de como lidar com as dicotomias. No
cotidiano o que se impõe como mais urgente é conciliar as ânsias por
individuação e a geração de códigos de ética capazes de mediar os conflitos de
uma sociedade definida pela multiplicidade e pela insustentável leveza da
fluidez.
Referências Bibliográficas:
BAUMAN, Zygmunt – Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar,
2001
EAGLETON, Terry - As ilusões do pós-modernismo. Rio de Janeiro:Zahar,
1998.
HALL, Stuart- A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de
Janeiro:DP&A,1997.
Nathalia Leão
Garcia
Rio de
Janeiro, 13 de dezembro de 2017