Evoco e vocalizo um verbo passivo.
Um verbo divino, escandalizado e abolido.
Verbo dessacralizado, desmesurado e
explosivo.
Preciso desse verbo que faça estremecer
o chão,
que desmoralize as certezas,
e abale as estruturas da razão.
Meu verbo preferido grita até calado.
Não cabe nos guetos nem nas mansões.
Provoca terremotos e destruição,
arranca das garras do apego,
liberta da acomodação.
Esse verbo indefinível não acusa,
é bandido, burla leis,
foge e não vai preso.
Subverte o poder dos reis.
Verbo que desdobra as dobras do tempo
Não cobra, negocia os vacilos.
Meu verbo excomungado frequenta os
submundos
É mal falado e convive com os
vagabundos.
Camufla-se no meio da procissão.
Comunga e pede redenção.
Desperta piedade e inspira lamento.
É volátil, volúvel, desfrutável e
inútil.
Meu verbo direto exorta os demônios
e absolve os pecados do mundo.
Nathalia Leão Garcia
Rio de Janeiro, 03 de
março de 2014
Claude Monet, "Impressão do Sol Nascente".
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