Esta semana lendo a coluna
da Martha Medeiros de domingo, deparei-me com as reminiscências da festa de
aniversário inesquecível dela dos seus 10 anos em que relatou a realidade das festas de antigamente sem shows de
Anitta, coreografias de funk e outras pirotecnias da era tecnobrega mas eram
regadas a emoção de compartilhar com os pais e familiares queridos.
Esta leitura me fez entrar
no túnel do tempo e relembrar a minha inesquecível comemoração de aniversário de 10 anos. Minha madrinha que era minha tia avó, solteira,
independente e uma espécie de ídolo para mim resolveu me presentear com a minha
primeira e única festa de aniversário na infância. As lembranças dessa minha
história dão conta de mais um pretexto para fazer a minha terapia de passar a limpo as minhas impressões tatuadas
na memória afetiva. Da série, lembranças da infância pré-histórica!
Faço aniversário em meio às
férias de janeiro, com a debandada geral da cidade do Rio de Janeiro e no mês
em que estoura o orçamento das famílias por conta dos gastos com Natal e ano
novo e as fatídicas facadas do IPTU, IPVA e renovação de matrícula nas escolas.
Não era das mais populares
na infância e aquele ano coincidiu com a mudança de escola particular para a
pública. Eu era louca para “aparecer”, era falante, fazia teatro, dançava mas sempre na hora de apresentar-me a minha
mãe arrumava uma quizumba e lá estava eu fora das festas, além do mais para o
meu desespero, ela adorava dar show na
porta da escola na entrada insultando os possíveis amigos com a declaração
anti-social de que “ ninguém era bom o bastante para freqüentar a nossa casa”.
Eu era por assim dizer, odiada por todos como uma unanimidade de antipatia! Arrumava
assim muitas inimizades e encorajada por mamãe era uma aprendiz de lutadora de
MMA! Vivia aos tapas com todos os colegas e vizinhos do bairro!
Os meus 10 anos foram ainda
mais memoráveis porque minha avó Nadyr que me criou e é a responsável pelos
meus melhores traços de humanidade e doçura na vida havia morrido às vésperas do
Natal, um mês antes do meu aniversário.
Eis que a minha dinda
Arlette que era irmã da minha avó falecida, para me compensar da tristeza
organizou uma bela festa de aniversário na Confeitaria Colombo na Av. Copacabana
extinta há décadas, hoje abriga uma luxuosa agência do Banco do Brasil.
Era um endereço mágico pra
mim! Eu adorava a arquitetura e a decoração Art Decô! Sim , eu era um ET por me
encantar com aquela “ velharia “ aos 10 anos!
Muito que bem, chegou o
grande dia e a minha mãe me reservou o mimo de levar-me ao salão de beleza para
fazer as unhas o que eu sonhava e ela sempre falava que era “coisa para
mocinhas” e eu era uma pirralha mesmo
lendo Machado de Assis e Jorge Amado feito gente grande! Ganhei também um lindo
vestido de laise rosa feito sob medida para mim e sapatinhos de verniz de pulseirinha,
parecia a Dorothy do Mágico de Oz!
A platéia que não chegava a 10
pessoas incluía minha mãe, minha irmã mais nova de 7 anos, a Dinda e algumas
crianças, netos das amigas da minha madrinha.
A minha vida social era um desastre!
No grande dia tão idealizado
estava eu lá vestida como uma princesa naquele luxuoso “ palácio” com que sempre sonhei, mas estava
muito triste porque sentia a falta da minha avó , do meu pai sempre ocupado que
nunca estava presente, meu único tio e primos moravam em Petrópolis e eu me
sentia só!
Dramática desde pequena eu sonhava
em ser cantora lírica e a minha ópera predileta era Carmem que eu imitava debaixo
da torrente de comentários desencorajadores de mamãe! Na hora do parabéns ao
som do piano de cauda tocado pelo músico de casaca triunfal, refugiei-me no
banheiro para chorar sem que ninguém me visse!
Tudo que eu queria eram os
abraços dos ausentes que eu amava!
Até eu ingressar na
Faculdade de Psicologia não costumava comemorar aniversário. Mas na UFRJ
encontrei “a minha família aquariana” e passei a celebrar coletivamente e até hoje
é a minha forma predileta de passar a data.
Este ano como de costume,
estava trabalhando e descobri mais duas colegas que faziam aniversário na mesma
data!
Já comemorei o meu níver de
forma mais intimista “morando “ uma tarde toda numa grande livraria e foi um
êxtase estar naquele lugar que povoa os meus sonhos!
Acredito que a data de
aniversário é uma oportunidade para celebrar a vida e agradecer tudo que
conquistamos!
Não há nada que substitua a
presença das pessoas que amamos ao nosso lado, mas aprendi a não me render às
lamúrias e enxergar o lado bom da vida
em cada situação.
Trabalho com organização de
eventos e adoro uma festa para compensar!
Apesar dos dramas, aquele aniversário
de 10 anos na Confeitaria Colombo veio à tona como inesquecível, pois tive que
aprender a lidar com as faltas, a frustração e a saudade e isto me tornou uma
pessoa que super valoriza as amizades e as demonstrações de afeto.
Como dizia Ghandi, não existe um caminho para a felicidade, a
felicidade é o caminho!
Nathalia
Leão Garcia
Rio de Janeiro, 22 de agosto de 2014