Antes que me preguem na cruz
e ateiem fogo às minhas vestes,
declaro que adoro uma heresia.
Eu cruzei almas sem luz,
caminhos agrestes,
mas na memória só guardo poesia.
Meus horizontes são repletos de azuis,
Não carrego pesos inertes.
Meus desertos tem cheiro de maresia.
Possuo fronteiras incertas.
Meu endereço é provisório.
Minhas estradas estão abertas.
Habito um largo território.
Eu deveria reagir melhor às patadas,
lançar mão do meu largo repertório
Não estive ainda no fundo do poço
Meu sorriso é largo e compulsório.
Compus linhas mal traçadas e erradas
Com o meu desespero ilusório
que apesar da ironia desse troço
Você as adote como acessório.
De você herdei irreverência e rebeldia
Não me faço de santa nem beata
Com arrogância e teimosia
Enfrento os demônios e não sigo a passeata.
Vou a procura da surpresa do dia
na esperança de que a veia autodidata
desenhe com impaciência e ironia
e compense a pitada de crueldade sensata.
Meu verso é volátil, volúvel, desfrutável e inútil.
Meu verbo direto exorta demônios e pagãos
e absolve os pecados do mundo fútil.
Minha alma rebelde é ansiosa em essência
Não nega quando não me calo e solto palavrão
Aceito que sou indomável por resistência
Assim suporto as dores da solidão.
Assim suporto as dores da solidão.
Nathalia Leão Garcia
Rio de Janeiro, 08 de abril de 2019.
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