Este texto
em prosa nasceu dos meus questionamentos e como uma luva se encaixa em minhas
inquietações. Confesso a angústia pela responsabilidade que carrego por tantas
escolhas. Tudo tem um preço, ficar no meio do caminho não é uma opção.
As exigências e cobranças pesam. Sinto muitas vezes a fragilidade humana me
pegando em cheio e os sentimentos ambíguos de orgulho, bravura,
coragem oscilando com insegurança, medo e solidão que desgastam, machucam
e moem. É estressante viver e ainda tenho que lidar com o nível de
satisfação que me cobro. Não quero que seja em vão a minha luta. A
existência é muito breve para não arriscar. Não há nada a perder quando a gente
não tem garantias. Abro as minhas asas e confio no vento. Voo às cegas, não há
alternativa. Preciso poder me olhar no espelho com inteireza. Enfrentar a
timidez, a falta de jeito em lidar com as minhas próprias
limitações. Não tenho pudores em dizer que não sei as respostas.
Nestes tempos pós-edipianos, não há a segurança do pai para me dar os limites,
não tenho chefe, nem um Deus para me salvar, não tenho religião, não sou filiada
a nenhum partido. Não há prisões nem grilhões. A liberdade tem prós e contras.
Os que eu amo não me compreendem e é assim mesmo. Para estar junto não é
necessário entender tudo. Não somos adversários por versarmos em
outras línguas. Há um mundo de diversidade e temos de ser tolerantes e
inclusivos. Caíram os véus. A inconsciência não vai me salvar. Há esse sintoma
indecifrável que me define e preciso assumi-lo como meu, um mal estar
unicamente meu. Preciso me inventar e escolher como vou viver daqui para
frente. O que passou não importa mais, faz parte da poeira do caminho. Não há
padrão, o novo espreita e bafeja seu hálito de hortelã em meu rosto me
provocando. Não há felicidade por merecimento e sim por obra do
acaso. Trombamos por sorte na felicidade dobrando uma esquina da vida. Sem
aviso ela me surpreende num sorriso. Quando os desafios parecem
avassaladores vem a certeza não sei de onde e a luz está lá iluminando os meus
passos. Se não há nada além das palavras, há um cheiro de novo no ar que nos espera
com a necessidade de articularmos os nossos monólogos que não passam mais pela
moral arcaica e sim pela ética. Isso é o que me norteia. Na melhor
definição lacaniana, troco a sensação de impotência pelo reconhecimento da
impossibilidade de executar o que não é real! Uso a minha experiência, o
instinto e minha subjetividade pra me guiar. Sou responsável pela
minha singularidade, não tenho ponto de referência, preciso legitimar a
informação que me chega pelos poros, por osmose, acontecimentos no meu corpo
que denunciam os traços desse ser incomum dessacralizado que compreende
contradições. Esta sou eu, dinamitada pela incoerência. Não peço compaixão, não
me proponho a lamber minhas feridas nem exijo empatia. Vou em frente mesmo sem
saber aonde vai dar. Não tenho para onde ir nem rota de fuga. A viagem é
interior. O riso e o gozo me libertam. Não me explico nem me justifico. Anjo ou
demônio, apenas estou sendo, sou um processo individual.
Nathalia Leão Garcia
Rio, 17 de agosto de 2013
Rio, 17 de agosto de 2013
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