Metáforas de Netuno em nossa vida.
Amor improvável de um casal arquetípico.
A Vênus aquariana ensandecida
O Marte geminiano quer tudo ao mesmo tempo.
E se dá o encontro onírico.
Por breves e secretos momentos
O contato é intrigante e arrebatado.
Os astros colidem violentos.
Mitologia da alma no vento.
Surreal, diáfano, etéreo, romance desmesurado.
Desejo que fique comigo,
Mas fujo assustada deste Sol que me tira do prumo.
Intuo os perigos e prossigo.
O que torna picante e irresistivelmente mágico
É a incerteza, a quimera, a falta de rumo.
Duas almas que sempre se quiseram em vão.
Além do espaço, aquém do trágico.
Querer intenso que se materializa na fusão.
Fizemos pactos de não interferência.
Tácitos não revelam, mas envolvem
Chegam de repente e tomam por irreverência.
Invasão bárbara e endêmica.
Pelos poros se infiltram e ardem.
Pigmentam a paisagem oceânica.
Na derme se fundem como tatuagem.
Pagar para ver, deixar rolar as manhas.
Seduzindo, persuadindo.
A sensação invade as entranhas.
E continua seu caminho infindo.
Há que apreender sem te prender.
Nesta viagem sem limites e sem fronteiras.
Não se arrepender nem te perder.
Soltar de vez a loba desvairada que escapa pelas
beiras.
Minha Lilith Ariana gladiadora voraz e feroz
disputa com a Lua Virginiana irônica e recatada
Numa batalha sangrenta e atroz
Sobra a minha carne lacerada
em lascas tão finas esculpidas pelo algoz.
Corpo e alma.
Anima e animus.
Yin e yang.
Lado A e lado B.
Verso e reverso.
Uma contradição sem fim.
Meus “eus“ irreconciliáveis.
Os opostos que moram em mim.
Não se prendem aos alicerces confiáveis.
Nem aos códigos arcaicos de marfim.
O cetro serpenteia na vértebra
Libidinosamente numa espiral
Faz tremer meu corpo num êxtase e celebra
O transe mediúnico abre o portal
E me transporta pra um cenário desértico de quebra.
Nos perdemos no portão de embarque num instante
Longo caminho de retorno à estrada
Casamento cósmico num tempo distante.
É pelo olhar que pedimos licença de entrada
Para o triunfal desfile mutante
adentrar a nave sagrada.
A volúpia é invejável.
A poção venenosa vicia.
Essa fome inadiável
Que somente uma fonte sacia.
A remissão dos pecados é inegável.
Meu amante clandestino, não se ofenda!
A minha teia ilude.
Não se renda!
O fogo da paixão é incompletude.
Chega ao fim meu delírio de alucinação.
O despertar de um sonho de Morfeu.
Num palco iluminado de peregrinação.
Persisto na busca do Romeu.
Com a rebeldia de Urano e inspiração.
Nathalia
Leão Garcia
Rio, 25 de junho de 2014