sábado, 10 de novembro de 2012

MEMORIAL



Por que a dor pungente
aperta a vida da gente,
camufla-se em sombras,
sobras de sonhos mal sonhados?

Por que as brumas teimam e tatuam os dias,
encobrem a luz,  
escurecem o céu,
e deixam um gosto amargo de fel?

Por que falar da falta que ele faz,
se a palavra que calo é ambígua,
retaliada e escandalizada?

Por que o perfume que permeia a vida,
provoca uma sensação de repúdio,
pulveriza as paixões perversas,
estimula a febre e fere a sensatez?

Por que me troco a troco de nada,
se não te toco da urgência do toque,
se o que sinto sussurra no vento
o último sortilégio dos deuses?

Por que enquanto o mundo dorme,
meu uivo insano ecoa nos telhados
e promete a remissão dos pecados?

Que o fardo se torne ao menos suportável,
leve embora o cisma de vez
trazendo o alívio do abraço do amado.

Não sou mais do que a ausência das margens
de um rio que não é mais navegável.

Nathalia Leão Garcia 
Rio, 10 de novembro de 2012. 


4 comentários:

  1. Nossa que bom receber a sua visita neste espaço povoado de poesia! Seja bem vindo sempre! Aqui o maior objetivo e provocar e compartilhar emoções! Beijos!

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  2. Lindo poema! Mas será que esse rio não é mesmo mais navegável?

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  3. Obrigada pela visita! É preciso disposição e vontade para encarar os ciclos do rio. Investir tempo e demonstrar interesse para valer à pena. O que é que você vai fazer com isso? Encarar o desafio ou abandonar a travessia do rio?

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Namastê!

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