quarta-feira, 2 de julho de 2014

PROSA EM TEMPOS DE CÓLERA


Em tempos em que muitos praticam a falta de delicadeza no melhor das hipóteses e onde a truculência de outros tantos que se impõem através da força e da ignorância, é bom lembrar o mundo plural em que vivemos e a urgência da humanização. A única possibilidade de sobrevivência neste planeta se dará através da cooperação. O mais importante é que haja respeito e convivência civilizada entre as pessoas, não importa que sejamos diferentes e que tenhamos pontos de vista divergentes. Não pode haver grilhões para a palavra e é necessário exercer a nossa cidadania. Coexistir de forma harmônica com as diferenças é a única forma de nos mantermos no Universo! O proselitismo encarcera as ideias! Vivemos um lamentável fundamentalismo ideológico que empobrece os discursos. Estamos perdendo a capacidade de existir em sociedade! E isso é alarmante! Respeito e inclusão! Usemos as palavras e o poder da argumentação, não intimidação e desqualificação do discurso do outro. Há lugar para todas as ideias. Feio é a não aceitação do direito do outro, egocentrismo, narcisismo. Existe vida além do eu!


Nathalia Leão Garcia

Rio, 2 de julho de 2014


quarta-feira, 25 de junho de 2014

EPOPEIA DO DEVANEIO ALQUÍMICO



Metáforas de Netuno em nossa vida.
Amor improvável de um casal arquetípico.
A Vênus aquariana ensandecida
O Marte geminiano quer tudo ao mesmo tempo.
E se dá o encontro onírico.

Por breves e secretos momentos
O contato é intrigante e arrebatado.
Os astros colidem violentos.
Mitologia da alma no vento.
Surreal, diáfano, etéreo, romance desmesurado.

Desejo que fique comigo,  
Mas fujo assustada deste Sol que me tira do prumo.
Intuo os perigos e prossigo.
O que torna picante e irresistivelmente mágico
É a incerteza, a quimera, a falta de rumo.

Duas almas que sempre se quiseram em vão.
Além do espaço, aquém do trágico.
Querer intenso que se materializa na fusão.

Fizemos pactos de não interferência.
Tácitos não revelam, mas envolvem
Chegam de repente e tomam por irreverência.

Invasão bárbara e endêmica.
Pelos poros se infiltram e ardem.
Pigmentam a paisagem oceânica.
Na derme se fundem como tatuagem.

Pagar para ver, deixar rolar as manhas.
Seduzindo, persuadindo.
A sensação invade as entranhas.  
E continua seu caminho infindo.

Há que apreender sem te prender.
Nesta viagem sem limites e sem fronteiras.
Não se arrepender nem te perder.
Soltar de vez a loba desvairada que escapa pelas beiras.

Minha Lilith Ariana gladiadora voraz e feroz
disputa com a Lua Virginiana irônica e recatada
Numa batalha sangrenta e atroz
Sobra a minha carne lacerada
em lascas tão finas esculpidas pelo algoz.

Corpo e alma.
Anima e animus.
Yin e yang.
Lado A e lado B.
Verso e reverso.

Uma contradição sem fim.
Meus “eus“ irreconciliáveis.
Os opostos que moram em mim.
Não se prendem aos alicerces confiáveis.
Nem aos códigos arcaicos de marfim.

O cetro serpenteia na vértebra
Libidinosamente numa espiral
Faz tremer meu corpo num êxtase e celebra
O transe mediúnico abre o portal
E me transporta pra um cenário desértico de quebra.

Nos perdemos no portão de embarque num instante
Longo caminho de retorno à estrada
Casamento cósmico num tempo distante.

É pelo olhar que pedimos licença de entrada
Para o triunfal desfile mutante
adentrar a nave sagrada.

A volúpia é invejável.
A poção venenosa vicia.
Essa fome inadiável
Que somente uma fonte sacia.
A remissão dos pecados é inegável.

Meu amante clandestino, não se ofenda!
A minha teia ilude.
Não se renda!
O fogo da paixão é incompletude.

Chega ao fim meu delírio de alucinação.
O despertar de um sonho de Morfeu.
Num palco iluminado de peregrinação.
Persisto na busca do Romeu.
Com a rebeldia de Urano e inspiração.

Nathalia Leão Garcia


Rio, 25 de junho de 2014


quinta-feira, 12 de junho de 2014

DECLARAÇÃO ATREVIDA DE AMOR À ARTE DA ADORAÇÃO



Chegou a hora: vai ter Copa que tantos odeiam amar! Lidando com a ansiedade e agitação pelo início da Copa do Mundo me arrisco a rabiscar algumas linhas que mesclam os meus delirantes desejos. Quero conciliar as minhas paixões desbragadas pelo amor universal, pela liberdade, pela magia do futebol, pelo meu povo e pela vida! Ouso juntar no mesmo tacho a minha raça e protesto pelas iniqüidades que sofremos nesta pátria enxovalhada e abusada,  que samba bonito, dá beijinho no ombro e teima em ser feliz! Pra não dizer que estou alienada, torcendo desavergonhadamente por futebol quando há patrulhas por toda a parte tentando amordaçar o nosso direito de festejar com o que temos de melhor a nossa arte! Vivemos um momento muito forte em que o poder está sendo questionado e os reis estão caindo com seus escândalos fazendo ruir as torres! Há uma crise de autoridade e os astros nos mostram isso com o trânsito do planeta Plutão em Capricórnio. Sair na porrada e perder a compostura questionando a autoridade( Urano em Áries- olha aí a astrologia de novo!) é grave em qualquer instância.  O conflito do direito à liberdade e o respeito às leis torna o debate mais violento!(Quadratura Plutão - Urano) Que forças temos que enfrentar?  Viver e lidar com as contradições! E sem medo de ser feliz sou atrevida, despudoradamente apaixonada e com prazer quase indecente de curtir futebol!  Mando o meu barquinho pra Iemanjá com o desejo de boa sorte aos nossos meninos do Brasil essa pátria de chuteiras que sonha e quebra barraco, para que a paz e a liberdade triunfem! Solidariedade, união e vamos namorar a  vida e sorver das fontes que nos animam! E para embalar com força a nossa torcida  que tenha um som e a  arte da nossa música transformadora como os versos de Caetano e os Podres Poderes. Vamos despertar os sentidos e vibrar com o que nos mexe seja lá o que for!

PODRES PODERES

Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Motos e fuscas avançam
Os sinais vermelhos
E perdem os verdes
Somos uns boçais...
Queria querer gritar
Setecentas mil vezes
Como são lindos
Como são lindos os burgueses
E os japoneses
Mas tudo é muito mais...
Será que nunca faremos
Senão confirmar
A incompetência
Da América católica
Que sempre precisará
De ridículos tiranos
Será, será, que será?
Que será, que será?
Será que esta
Minha estúpida retórica
Terá que soar
Terá que se ouvir
Por mais zil anos...
Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Índios e padres e bichas
Negros e mulheres
E adolescentes
Fazem o carnaval...
Queria querer cantar
Afinado com eles
Silenciar em respeito
Ao seu transe num êxtase
Ser indecente
Mas tudo é muito mau...
Ou então cada paisano
E cada capataz
Com sua burrice fará
Jorrar sangue demais
Nos pantanais, nas cidades
Caatingas e nos gerais
Será que apenas
Os hermetismos pascoais
E os tons, os mil tons
Seus sons e seus dons geniais
Nos salvam, nos salvarão
Dessas trevas e nada mais...
Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Morrer e matar de fome
De raiva e de sede
São tantas vezes
Gestos naturais...
Eu quero aproximar
O meu cantar vagabundo
Daqueles que velam
Pela alegria do mundo
Indo e mais fundo
Tins e bens e tais...
Será que nunca faremos
Senão confirmar
Na incompetência
Da América católica
Que sempre precisará
De ridículos tiranos
Será, será, que será?
Que será, que será?
Será que essa
Minha estúpida retórica
Terá que soar
Terá que se ouvir
Por mais zil anos...
Ou então cada paisano
E cada capataz
Com sua burrice fará
Jorrar sangue demais
Nos pantanais, nas cidades
Caatingas e nos gerais...
Será que apenas
Os hermetismos pascoais
E os tons, os mil tons
Seus sons e seus dons geniais
Nos salvam, nos salvarão
Dessas trevas e nada mais...
Enquanto os homens
Exercem seus podres poderes
Morrer e matar de fome
De raiva e de sede
São tantas vezes
Gestos naturais
Eu quero aproximar
O meu cantar vagabundo
Daqueles que velam
Pela alegria do mundo...
Indo mais fundo
Tins e bens e tais!
Indo mais fundo
Tins e bens e tais!
Indo mais fundo
Tins e bens e tais!


Nathalia Leão Garcia


Rio, 12 de junho de 2014. 


terça-feira, 10 de junho de 2014

ME RESUCITA



Estoy tratando de obtener algún sentido de la vida.
Porque todo parece muerto y gris,
como este fin de semana de plomo.
El plomo sella mi estado de ánimo.

Me siento estéril e inerte.
Todo placer y alegría
están atrapados en la prisión
Aparte de cualquier límite conocido.

Sigo mi rutina como el robot.
Mañanas pierden frescura.
Noche, el resplandor de las estrellas.
Y esto sólo permanece vacío abismal.

Mi cuerpo y mi alma
no quiere olvidarte,
El sueño no obtenido.

Esta soy yo ahora
indefensa y dinamitada por  la futilidad.
Contenida por mis gritos
eco de mi presencia

Mi existencia es un desierto
habitado por la memoria
de un curso de la vida que yo renuncié ...   

Mis besos, mis susurros,
mis sentidos, mi alegría están dormidos.

Envueltos en celofán.
Sólo tú tienes el poder de desenvolverlos.
Porque son tuyos...


Sólo un deseo: 
me resucita.


Nathalia Leão Garcia
Rio, 10 de junho de 2014. 

                         

Madonna, 1894 by Edvard Munch

segunda-feira, 26 de maio de 2014

CANÇÕES E CONTRADIÇÕES


Porque não me lanço e me arremesso?
Porque me tranco e me calo?
Onde me perco e tropeço?

Quanta felicidade eu suporto?
Será que me permito beber no gargalo?
Basta ultrapassar a zona de conforto?

Vencer a covardia que me amordaça.
A ousadia me tira do ralo.
Dispo a mortalha que a minha pele disfarça.


Nathalia Leão Garcia


Rio de Janeiro, 27 de maio de 2014


segunda-feira, 19 de maio de 2014

CONTRADIÇÕES E PAIXÕES




Me desdobro nas dobras e nos meios.
Vivo perigosamente suspensa
no varal dos meus devaneios
e ao que mais minha alma pertença
nada além das fronteiras da coisa amada.

Mas o que é  a paixão?
Esta vândala desalmada
que se apodera de mim por inteiro
e carrega  nas suas entranhas
o gérmen do desequilíbrio.

Alimentada pelo mistério e suas manhas
A paixão é que nos escolhe.
Acolhe e atola nesta areia movediça.
Afoga, mói, tritura e purifica.

A experiência sublime do desapego
O delírio da unidade que eterniza.
O inferno ardente do desassossego.
O cúmulo do altruísmo que modifica.

O que resta daquele cheiro, daquele calafrio?
No fim me reciclo e me desmancho.
Reinvento o meu ser permeado
e me descubro maior e mais profetiza.

Nathalia Leão Garcia
Rio, 19 de maio de 2014


domingo, 20 de abril de 2014

CONTO DE SAUDADE E GRATIDÃO


Eu morava com a minha avó materna que me criou desde

pequena e me ensinou o que é o amor e o que tenho de

melhor em mim. Cresci em Copacabana e sempre 

quando ia à praia com minha mãe e minha irmã mais nova

costumava levar um baldinho de água do mar para a minha 

avó se banhar na banheira lá de casa. Esse ritual era uma 

fonte imensa de alegria. Quando chegava da praia vovó 

esperava o baldinho com água do mar que eu derramava 

sobre ela na banheira como se a cobrisse com o meu amor e 

gratidão. A imaginava como uma Deusa e que aquela água a 

mantivesse imortalizada! Um dia após a sua morte aos meus 

9 anos,  esqueci e trouxe o baldinho com a água do mar pra 

casa buscando-a como de costume e me dei conta naquela 

hora da sua ausência física. Mas a trago no meu coração por 

toda a minha vida e a irrigo com a água sagrada das minhas 

lágrimas de amor e gratidão! Ela será eterna em mim pra 

sempre! 




Boa Páscoa e celebração da ressurreição da memória 



amorosa imortal! 

Nathalia Leão Garcia 





MEMÓRIAS DO SUBTERRÂNEO

  Talvez não me reste nada além de manter a mentira da felicidade fácil, das juras de amor mais deslavadas. Desavergonhada farsante. É...