quinta-feira, 24 de maio de 2012

REPENSANDO AS RELAÇÕES: AMOR X SEXO



  Nestes tempos de crises de valores, há profundas transformações em cena.
  Questiona-se a recorrente separação entre sexo e amor, desde que Freud e a Psicanálise atearam fogo sobre este assunto, passou-se a perguntar como encontrar o equilíbrio.
  Desde os remotos tempos de Sócrates e Platão, idealiza-se sexo e amor conceitualizando-os.
  O amor surge do desconforto, do desamparo, da necessidade de aplacar a dor primordial de expulsão do útero.
  A experiência dolorosa do nascimento, despejo do idílio amoroso com a mãe, nos impulsiona a buscar o retorno ao conforto do contato materno. A trajetória humana em busca do amor para dar fim a sensação de incompletude é uma experiência interpessoal. Dependemos do outro para eliminar a dor do vazio. O amor é o prazer negativo que exclui o desejo, é a paz.
  O sexo já se caracteriza por uma experiência individual e segundo Freud aparece na vida da criança por volta dos dois anos de vida.  Tocando o seu corpo, o indivíduo descobre o prazer independente de um desconforto prévio.  É o prazer individual positivo que vem da excitação pessoal e não precisa do outro.
  A cultura instiga o homem à agressividade e desestimula a sua atividade intelectual.  A agressividade associa-se ao sexo. 
  A sociedade consumista, exibicionista impulsiona o indivíduo para o outro, para a satisfação do desejo, volátil.  É a glamorização do sexo casual que leva ao vazio e à frustração.  Saciado o desejo, resta o tédio ou como hipótese a invenção de outro desejo.
  A atração física privilegia o ser desejável, extrovertido em detrimento do tímido, do ser romântico e sincero.
  A excitação homogeneíza as pessoas. O consumismo desenfreado cria o anseio de ser objeto de desejo.
O elemento táctil, o se apalpar, trocar carícias, abastece o sujeito de si mesmo.
  O desejo se evapora nas relações duradouras, pois não combina com a propriedade. Assim um homem não deseja a sua mulher, pois já a possui.  É a impossibilidade de ter, a insegurança que acendem o desejo.
Nos novos tempos a mulher detém o poder visual, político e econômico.
  A parceria amorosa e sentimental atual evidencia o companheirismo, a cumplicidade e tenta reconciliar os semelhantes.  O amor companheiro, o parceiro como melhor amigo.  Esse é um dos caminhos do novo casamento.
  O anseio por aconchego, pela paz nos faz trabalhar o controle do desejo imperioso. É uma questão de administrar, de introduzir a razão que constrói a disciplina que é a nossa salvação.  Podemos sentir todos os desejos e selecionar o que vamos satisfazer.
  Numa sociedade do descartável, prepondera a caçada em detrimento da caça.
  O desejo se alimenta da novidade, do que reforça a excitação. O conhecimento crescente numa relação duradoura vai soterrando o desejo.
  O matrimônio é o grande inimigo do sexo. É a fragilidade do tesão. Os pensamentos atrelados às obrigações e aos afazeres aniquilam o desejo.
  Quando o homem falha nos primeiros encontros depara-se conscientemente ou não com a valorização da mulher, dessa mulher que lhe inspira o casamento. Nesta fase muitos homens fogem e até verbalizam este medo do compromisso. Na verdade é a possibilidade de aprofundamento que assusta.
  Platão já admitia as diferenças irreconciliáveis entre o amor e o sexo. O amor é sensato, maduro, sublime e espiritual. O sexo é a paixão vulgar, o apetite devastador.
  O casamento em si é frustrante.  Buscamos um novo modelo de intimidade, a construção da amizade entre homem e mulher.  A renegociação do comportamento sexual no casamento pressupõe uma nova combinação em que os cônjuges partilham fantasias e combinam troca de carícias e excitação para viverem o clima de tesão.
  O sexo é a combinação e não o espontâneo. É preciso criar uma atmosfera erótica, cúmplices conversas picantes, erotismo combinado.  A vida sexual baseada na excitação e não no desejo.
   O sexo só assume importância quando vai mal. O amor como protagonista exige ternura e compartilhamento.  O sexo como protagonista leva ao tédio, ao vazio.
  Novos tempos, novos sonhos. Vamos rasgar o verbo e viver as fantasias de comum acordo!



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