Nestes tempos de crises de valores, há
profundas transformações em cena.
Questiona-se a recorrente separação entre
sexo e amor, desde que Freud e a Psicanálise atearam fogo sobre este assunto, passou-se a perguntar como encontrar o
equilíbrio.
Desde os remotos tempos de Sócrates e Platão,
idealiza-se sexo e amor conceitualizando-os.
O amor surge do desconforto, do desamparo, da
necessidade de aplacar a dor primordial de expulsão do útero.
A experiência dolorosa do nascimento, despejo
do idílio amoroso com a mãe, nos impulsiona a buscar o retorno ao conforto do
contato materno. A trajetória humana em busca do amor para dar fim a sensação
de incompletude é uma experiência interpessoal. Dependemos do outro para
eliminar a dor do vazio. O amor é o prazer negativo que exclui o desejo, é a
paz.
O sexo já se caracteriza por uma experiência
individual e segundo Freud aparece na vida da criança por volta dos dois anos
de vida. Tocando o seu corpo, o indivíduo
descobre o prazer independente de um desconforto prévio. É o prazer individual positivo que vem da
excitação pessoal e não precisa do outro.
A cultura instiga o homem à agressividade e
desestimula a sua atividade intelectual.
A agressividade associa-se ao sexo.
A sociedade consumista, exibicionista
impulsiona o indivíduo para o outro, para a satisfação do desejo, volátil. É a glamorização do sexo casual que leva ao
vazio e à frustração. Saciado o desejo, resta o tédio ou como hipótese a invenção de outro desejo.
A atração física privilegia o ser desejável,
extrovertido em detrimento do tímido, do ser romântico e sincero.
A excitação homogeneíza as pessoas. O
consumismo desenfreado cria o anseio de ser objeto de desejo.
O elemento táctil, o se
apalpar, trocar carícias, abastece o sujeito de si mesmo.
O desejo se evapora nas relações duradouras,
pois não combina com a propriedade. Assim um homem não deseja a sua mulher, pois
já a possui. É a impossibilidade de ter,
a insegurança que acendem o desejo.
Nos novos tempos a mulher
detém o poder visual, político e econômico.
A parceria amorosa e sentimental atual
evidencia o companheirismo, a cumplicidade e tenta reconciliar os semelhantes. O amor companheiro, o parceiro como melhor amigo. Esse é um dos caminhos do novo casamento.
O anseio por aconchego, pela paz nos faz
trabalhar o controle do desejo imperioso. É uma questão de administrar, de
introduzir a razão que constrói a disciplina que é a nossa salvação. Podemos sentir todos os desejos e selecionar
o que vamos satisfazer.
Numa sociedade do descartável, prepondera a
caçada em detrimento da caça.
O desejo se alimenta da novidade, do que
reforça a excitação. O conhecimento crescente numa relação duradoura vai soterrando
o desejo.
O matrimônio é o grande inimigo do sexo. É a
fragilidade do tesão. Os pensamentos atrelados às obrigações e aos afazeres
aniquilam o desejo.
Quando o homem falha nos primeiros encontros
depara-se conscientemente ou não com a valorização da mulher, dessa mulher que
lhe inspira o casamento. Nesta fase muitos homens fogem e até verbalizam este
medo do compromisso. Na verdade é a possibilidade de aprofundamento que
assusta.
Platão já admitia as diferenças
irreconciliáveis entre o amor e o sexo. O amor é sensato, maduro, sublime e
espiritual. O sexo é a paixão vulgar, o apetite devastador.
O casamento em si é frustrante. Buscamos um novo modelo de intimidade, a
construção da amizade entre homem e mulher. A renegociação do comportamento sexual no casamento pressupõe uma nova
combinação em que os cônjuges partilham fantasias e combinam troca de carícias
e excitação para viverem o clima de tesão.
O sexo é a combinação e não o espontâneo. É
preciso criar uma atmosfera erótica, cúmplices conversas picantes, erotismo
combinado. A vida sexual baseada na
excitação e não no desejo.
O sexo só assume importância quando vai mal.
O amor como protagonista exige ternura e compartilhamento. O sexo como protagonista leva ao tédio, ao
vazio.
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